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quarta-feira, 24 de março de 2010

Mentir no currículo pode dar cadeia


Matéria divulgada no jornal da tarde por Paulo Darcie, paulo.darcie@grupoestado.com.br

Inglês fluente, curso em Paris etc. Projeto de lei quer punir quem exagerar nas qualificações

Fluência em inglês, espanhol e sânscrito; curso de Desenvoltura Mental; pós-graduação em Ciências Cognitivas... Esses e outros tópicos podem levar a outro local que não o de um novo emprego. É que tramita no Congresso projeto de lei que pede cadeia para quem mentir sobre dados pessoais, qualificações e realizações profissionais em currículo.
A proposta prevê novo artigo no Código Penal específico para a falsidade de diploma, e o ‘ficcionista’ seria punido com reclusão de dois meses a dois anos por falsificar currículo inteiro ou parte de um – seja ele do próprio falsário ou de outra pessoa. De autoria do deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT), o projeto está na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara. Se aprovado, deve ainda passar pelo crivo do Senado.
A ideia é evitar casos como do ex-presidente da BMW no Brasil, que, em 1998, deixou o cargo após suspeitas de não ter feito alguns dos cursos, inclusive de doutorado, que exibia no currículo.
O assunto criou polêmica, também, em julho do ano passado, quando a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, admitiu não ter concluído mestrado na Unicamp, que aparecia como completo em seu currículo Lattes. Para tentar aliviar a barra da ministra, o senador Aloísio Mercadante insinuou que o governador de São Paulo, José Serra, mentia que teria concluído curso de engenharia na USP.
Mas o mercado não aposta muito na eficácia do projeto. Para a vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Elaine Saad, dificilmente uma empresa compraria a briga. “Detectar currículos falsos requer estrutura e é custoso. Para a empresa não vale a pena denunciar; ela apenas deixa de contratar”, afirma. “E outra: e se o selecionador errar e denunciar um currículo que não é falso? Vai gastar muito para se defender”, completa.
Especialistas, no entanto, lembram que não é comum encontrar mentiras “pesadas” em currículos, e que os RHs exigem cada vez mais dos candidatos já selecionados documentos que comprovem as certificações e diplomas. As mentiras mais comuns são as menores, segundo o diretor do site de recrutamento profissional Monster, Rodolfo Ohl. “O mais comum é aumentar o tempo de permanência em um cargo e suas incumbências na função”, diz ele.
Há também informações abstratas, que, segundo Elaine, dificilmente podem ser chamadas de ‘mentirosas’. A fluência em um idioma pode ser diferente para duas empresas, afirma ela. “Depende do que o contratante espera do candidato. Certo é que ela avalie com um teste que determine o que é ‘fluente’ para ela”, diz.
Mentir no currículo, no entanto, nunca foi e nunca será bom negócio. “Os selecionadores têm ferramentas para detectar mentiras na entrevista, aprofundando os assuntos”, afirma Ohl. “O mentiroso pode até ser contratado, mas, se não for qualificado para o serviço e não der conta, logo estará fora”, afirma Elaine.

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